Eu nunca vou conseguir superar a morte do meu avô


            Parecia tão injusta a morte do meu avô. Por que ele tinha que ir justo quando eu mais precisava dele? Por que ele foi assim? Por que tão rápido? Por que tão de repente?
            Não queria que nada disso tivesse acontecido! Eu me sentia triste, sem ânimo para nada. Só queria ficar deitada no meu quarto, olhando para o teto. Nem a televisão ou o celular me distraíam; tudo parecia chato demais.
            Quando eu saía de casa, me dava uma sensação ruim em ver as pessoas sorrindo e felizes. Era como se eu quisesse perguntar para elas “Ei, por que você está feliz? Você não percebe o que aconteceu?”.
            O desânimo era tanto que nem nos livros eu conseguia mais pegar para estudar. Acabei nem fazendo o vestibular, pois eu não estava com cabeça para isso.
            Júlia foi me visitar em casa e contou que havia passado na HAX em Direito. Fiquei super feliz por ela. Com certeza ela era a pessoa mais dedicada que eu conhecia e merecia muito ter sido aprovada.
            - Como você está, amiga? – ela me perguntou.
            - Tenho chorado bastante. Sem ânimo, sem vontade de fazer nada.
            - Eu entendo que seja muito difícil mesmo. Também já perdi meu avô e foi um baque muito grande pra mim.
            - Sim... - suspirei. – E é uma sensação muito estranha. Às vezes não sinto nem vontade de comer.
            - Imagino, amiga! Mas não pare a sua vida. Seu avô quer te ver bem.
            - Eu sei. – suspirei novamente deixando cair algumas lágrimas.
            Júlia olhou meu violão na parede e apontou para ele.
            - Tem tocado?
            - Não... Não sinto vontade ultimamente.
            - Acho que você deveria tentar, vai te fazer bem...
            A música sempre me animava em tudo, mas até do violão eu queria ficar distante já que também era algo relacionado ao meu avô.
              Durante os dois primeiros meses, eu não tinha forças para nada. Até para me alimentar estava difícil. Mesmo com o apoio da minha família e dos meus amigos, estava difícil me reerguer. Eu passava a maior parte do tempo sozinha, trancada no meu quarto. Isolada de tudo e de todos, eu me permitia chorar até esvaziar todo o estoque de lágrimas, logo depois eu me acalmava e dormia.
            Demorou um tempo para que eu conseguisse chegar perto do violão. Foi bem aos poucos. Até que um dia resolvi tomar coragem e então abri a capa e peguei o violão. Meus olhos já encheram de lágrimas só de olhá-lo. Fui com ele até a minha cama, sentei com ele no colo e comecei a dedilhar os primeiros acordes. Junto àquelas notas vieram também as lágrimas. Uma mistura de dor, angústia e saudade.
            A dor era ruim e parecia que ficava cada vez mais forte. Mesmo assim eu sentia que deveria continuar tocando. Em forma de música e em meio ao choro, eu sentia também um desabafo. Aos poucos eu conseguia desabafar através da música e assim sentir o alívio que eu tanto queria.
            Foi preciso um tempo até que eu conseguisse superar a perda do meu avô e seguir em frente. A música e conversar com meus amigos sobre o assunto foram coisas que me ajudaram a desabafar e lidar com toda a situação que eu estava vivendo.
            Foi um ano bem tenso. Perdi, sobrevivi, me recuperei... E cresci! Talvez crescer seja a palavra mais importante que experimentei nos últimos meses.
            Comecei a dar mais valor às pessoas, à minha família e aos meus amigos. Percebi também que as oportunidades não devem ser desperdiçadas. Quantos sonhos eu deixei para trás por medo de dar errado? A vida estava correndo e às vezes eu ficava parada, deixando o tempo passar.
            Mais calma e mais aliviada, eu havia decidido voltar aos meus estudos para tentar novamente uma vaga na Universidade HAX. Esse era um grande objetivo que eu tinha e, portanto, eu não devia deixá-lo guardado na gaveta. Pode até ser que demore, mas sei que um dia vou chegar lá!
          Tem coisas que acontecem na nossa vida que fazem uma reviravolta, mas são essas reviravoltas que fazem nos encontrar com quem realmente somos.


FIM



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