Quando
chegou o dia do show, eu decidi ir. Meu avô me acompanhou em toda minha jornada
do concurso e, mesmo estando distante, eu sabia que ele estaria feliz por me ver
realizando um sonho.
- O vô Zino sempre me deu muita força para seguir meu sonho
e agora é a minha oportunidade de homenageá-lo. – falei para meus pais antes de
ir para o show.
-
Sei que ele ficaria orgulhoso! – minha mãe sorriu, ainda que seu rosto
estivesse abatido.
Eu
sorri também, emocionada.
-
Vocês vão?
-
Sim, vamos! – respondeu meu pai. – Sabemos o quanto é importante para você essa
conquista.
-
Muito! – abracei meus pais com carinho e eles retribuíram.
Fui
com o pessoal da banda até o estádio onde aconteceria o show. Nunca imaginei
que minha estreia como cantora seria em um lugar enorme, cantando para
“simplesmente” quarenta mil pessoas!
Meu
coração batia de forma diferente. Estava descompassado e fora de ritmo, mas
dentro de mim era uma sensação boa! Dava para acreditar que eu veria a Mika de
perto? Que eu subiria no palco e cantaria para tanta gente? Eu
não conseguia acreditar que tudo era real.
Ricardo
foi quem nos recebeu e nos levou para o nosso próprio camarim. Tinha até um
papel com o nome da nossa banda na porta! E lá dentro havia várias frutas, pães
e doces! Um melhor que o outro... Eu não podia ficar muito tempo ali, porque
quando fico ansiosa dá vontade de comer tudo o que vejo pela frente. Eu
precisava me controlar!
Fomos
chamados para fazer a passagem de som e eu subi no palco onde, em poucas horas,
estaríamos cantando oficialmente. O estádio ainda estava vazio. A equipe
de montagem estava arrumando a posição das grades e ajustando algumas coisas no
palco.
A poucos metros de nós,
estava o camarim da Mika. Nanda e eu olhávamos toda hora no corredor para ver
se ela estava passando, mas não estava. Toda vez que saíamos, víamos Ricardo nos
olhando, estranhando aquele comportamento.
- O que aconteceu, meninas?
– perguntou Ricardo se aproximando de nós.
Eu e Nanda nos olhamos
um pouco sem graça, mas a Nanda era mais extrovertida que eu para falar essas
coisas.
- Queríamos muito ver a
Mika... Será que poderíamos? – ela fez uma expressão de súplica.
Ricardo olhou no
relógio e ficou pensando, como se estivesse calculando o tempo.
- Por favor! – insisti.
– Prometemos que vamos ser rápidas.
- Ok. –
ele cedeu. – Sejam rápidas e não a atrapalhem porque ela está se concentrando
para o show.
Entramos no camarim e
Mika estava de costas, arrumando a roupa. Ela era de verdade!
– Mika? – falou Ricardo
e ela virou. – Essas duas são da banda que ganhou o concurso e vão abrir o seu
show.
– Olá, meninas! –
falando em seu português com pouquíssimo sotaque espanhol. – Parabéns!
– Obrigada! – eu e
Nanda falamos juntas.
Ela deu um abraço em
cada uma de nós e olhou para mim.
– Você está gelada!
– É o nervosismo! Em te
ver e pelo show... – respirei profundamente. – É a primeira vez que canto em
público...
– E vai ser um grande
público! – disse Nanda, fazendo com que eu soltasse outra respiração profunda.
– Fica tranquila! Eu
também fiquei nervosa no meu primeiro show! Ainda fico. Isso que nos move. –
disse segurando minhas mãos. – Mas vai dar tudo certo!
– Obrigada! – sorri. –
Sempre foi meu sonho ser cantora e eu estou tão feliz que a minha primeira
oportunidade vai ser no seu show! Eu lutei tanto para estar aqui e foi tudo tão
difícil – meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar o meu avô.
Quando pensava em
conhecer a Mika, eu me imaginava falando muita coisa pra ela. Queria falar o
quanto eu a admirava por sua luta e talento, e agradecer, porque mesmo que ela
não soubesse, ela sempre me incentivava e me motivava a seguir adiante para
realizar meus sonhos. E um deles estava sendo cumprido naquela noite.
Eu queria falar muita
coisa, mas eu não consegui. Abaixei o olhar, tentando ao máximo segurar as
minhas lágrimas que começavam a cair.
- O que houve? – ela
perguntou segurando minhas mãos.
Com certeza ela sabia
que aquele choro não era simplesmente de emoção por estar na frente dela ou por
estar prestes a cantar em um palco.
- Eu quase não vim... –
suspirei. – Meu avô morreu essa semana. Ele era a pessoa que mais me
incentivava a cantar e se hoje estou aqui é por causa dele.
O meu choro era
inevitável, estava tudo muito recente ainda. Ela me abraçou me consolando.
- Isso tudo é bem
complicado! Mas com certeza ele deve estar muito feliz essa noite em te ver
fazendo o que gosta!
- Realizando um
sonho... – suspirei. – Vários sonhos! Esse show será uma homenagem para meu
avô.
– Vai ser uma linda
homenagem! – ela sorriu. – Quando você estiver no palco, você vai sentir a
vibração do público e perceber que está no lugar certo!
Ela deu uma pausa
enquanto eu limpava as minhas lágrimas.
– Você merece tudo
isso! Parabéns pela sua força e coragem.
– Obrigada!
Dei um abraço nela novamente
e tivemos que sair, pois ela precisava se arrumar para o show, nós também. Eu
queria ter tido a oportunidade de conversar melhor com ela, contar tudo o que
eu sentia e falar um pouco sobre a música que eu compus com meu avô. Foi tudo
tão rápido! Mas mesmo com o pouco tempo que tive ao seu lado, me senti acolhida
por ela e motivada a fazer o show.
Então chegou o momento
de subirmos no palco. Nanda, Lucas e Rafa estavam ao meu lado e nós nos
abraçamos antes de entrar. Eles foram primeiro e fizeram a introdução da música
para, logo depois, eu entrar cantando.
Lá de cima do palco, eu
conseguia enxergar as três primeiras fileiras de pessoas que estavam perto da
grade. O restante eu via um grande vulto preto, com vários pontos de luz que
provavelmente eram celulares filmando.
Mais uma vez cantei com
toda a força que eu tinha no meu coração. E em cada verso e estrofe eu cantava
em agradecimento a cada um que fazia parte daquela conquista: meus pais, Mika,
Júlia, Lucas, Rafa, Nanda, Giselia, Ricardo, Luciana, Igor e até mesmo a Sil.
Cada um teve um pouco de contribuição para eu estar ali.
Entretanto, havia um
agradecimento em especial. Um que estava presente em todos acordes de todas as
canções: ao meu avô Zino. Ele não podia estar presente fisicamente, mas eu
sabia que ele estava presente comigo em cada nota que eu tocava.
Naquele instante eu não
pensei em mais nada além de viver o momento. O público vibrava com a gente e
cantava junto as músicas covers que
cantávamos de outros artistas conhecidos. Eu estava me sentindo bem à vontade! Até
brinquei com a plateia, ri, dancei, pulei... Me diverti!
Sabe aquela sensação de
dever cumprido? Era tudo o que eu sentia naquele momento. Chegar até ali não
havia sido fácil, foram anos que me dediquei à música, muito antes de o
concurso surgir. Quantas vezes eu escutei críticas, dizendo que era apenas um
sonho bobo ou que aquilo nunca iria acontecer?
Agora estava mais
que declarado que nada é impossível para aquele que acredita que é capaz. Eu
acreditei e consegui! Por mim, eu convidaria todo mundo a fazer essa
experiência: acreditar em si mesmo e ir atrás do grande sonho, pois só quem
vive isso sabe o quanto é gostoso saborear a vitória.
Encerramos com a música
“Sorriso da Lua”, nosso carro-chefe. Quando terminamos, ouvi os aplausos e
gritos do público. Eu estava super agradecida!
Olhei para o céu e a
lua sorria. Aquilo, para mim, era um sinal de que eu estava no lugar certo e no
momento certo!
Na semana seguinte, tivemos uma
ótima surpresa. Uma gravadora entrou em contato conosco com uma proposta para
gravarmos nosso primeiro EP. Ficamos super empolgados. Imagina?! Meu sonho
estava saindo muito melhor do que eu havia imaginado! Já tínhamos feito um
show, aliás, um GRANDE show, e agora teríamos o nosso próprio EP?! Quer coisa
melhor?
Infelizmente não passei no
vestibular da HAX, mas eu fiquei orgulhosa em ver a Júlia passando em Direito!
Ela merecia!
Eu não ia desistir da faculdade por
causa da música. Muito pelo contrário. Agora, com o dinheiro que o trabalho de
cantora iria me render, eu iria investir nos meus estudos, me formar em
Jornalismo e unir com a música. Afinal, a música estava na minha veia, era a
minha essência.
Depois de tudo isso, eu percebi o
quanto era bom correr atrás do sonho, isso faz com que a coragem cresça cada
vez mais. Pode ser até que às vezes dê um frio na barriga, mas é nessa hora que
a adrenalina aumenta e podemos perceber que sonhar é um jeito de perceber que
tudo é possível!
FIM
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