Perfeito!
Eu estava lá dentro e eu só precisava procurar a Mika sem ser descoberta por
ninguém!
Mas como? Eu nem ao menos sabia
aonde ela estava!
Olhei
em volta e tinham várias pessoas ao redor, mas todas estavam com crachá. Eu
tinha que pensar em uma estratégia rápida. A primeira coisa que pensei foi
olhar para o chão e seguir em frente. Assim, eu não precisava encarar ninguém e
se alguém perguntasse pelo meu crachá, eu diria que estava justamente
procurando por ele.
Continuei
andando, evitando contato visual e ficando longe dos seguranças para que
ninguém me parasse. Quando vi uma porta de estúdio mais vazia, entrei sem que
ninguém me percebesse.
Olhei
o número três bem grande desenhado na porta, indicando qual estúdio era aquele.
Com passos firmes caminhei até o banheiro e fui até a pia para pensar um pouco
diante do espelho, para decidir qual seria a minha estratégia.
Eu
estava me sentindo uma verdadeira espiã. Precisava descobrir o estúdio do
programa do Kauan, procurar a Mika e entregar a carta. Tudo isso sem ser
descoberta! Até aquele momento estava dando tudo certo e precisava continuar
assim. Eu não poderia falhar na missão!
Mas
o que eu falaria se perguntassem o que eu estava fazendo ali? Como eu me
explicaria? O que eu poderia dizer? Que estava na plateia e me perdi?
Bom...seria uma boa opção. Mas e se não tivesse cadeira para eu sentar? Como
explicariam que entrou gente a mais?
-
Falaram para você trocar de roupa também? – disse uma garota, interrompendo minha
linha de raciocínio.
Olhei
para baixo e tinha uma garota loira, aparentemente da minha idade, sentada no
chão e mexendo em uma bolsa cheia de roupas.
-
Oi? – perguntei sem entender muito bem o que ela havia dito.
-
Pediram para você também trocar de roupa? – ela repetiu a pergunta. – Agora vai
ser a cena do aniversário.
Como
não pensei nisso antes? Figurante de uma novela era a desculpa perfeita para
estar ali sem crachá!
-
Ah sim, do aniversário! Falaram... falaram sim! – esfreguei a testa fingindo
preocupação – Mas a minha bolsa de roupa ficou com uma pessoa da produção,
esqueci o nome dela... Ela disse que precisaria arrumar o camarim dos
convidados do programa do Kauan! Você sabe onde fica?
Ela
franziu a testa.
-
O que ela foi fazer lá? E por que levou a sua bolsa?
-
Não sei! Só disse que tinha que ver os convidados e saiu! Você sabe qual é o
estúdio?
-
Dois! – ela respondeu. – Fica aqui do lado.
-
Perfeito! Vou lá!
-
Mas já vão te chamar para a gravação, eu te empres... – ouvi sua voz, mas eu
havia saído tão depressa que quando eu disse “obrigada” já estava avistando com
a porta do banheiro fechada e estava prestes a sair do estúdio para procurar o
outro.
-
Onde você vai? – disse uma voz de um tom bem grosso e áspero.
Bem na porta tinha um segurança
parado ali. Ele era muito grande! Devia ser duas vezes mais alto que eu e era o
dobro da minha largura de tão forte que era. Mal encarado, sua testa franzia
aparentando estar com raiva. A minha sorte era que ele não estava ali quando eu
cheguei.
-
Eu estou trabalhando de figurante e preciso ir até a lanchonete!
-
Ninguém está autorizado a sair!
-
Eles me liberaram! Vai ser muito rápido!
Passei
por pessoas da produção da novela, mas como ninguém me conhecia, ninguém me
parou. Continuei andando e assim finalmente cheguei ao Estúdio 3!
Logo
na porta tinha outro segurança impedindo a entrada! Eles tinham que estar em
todo lugar?? Ok, eu sei que tinham!
“Olha
para o lado! Olha para o lado” – pedi em pensamento – “olha para o lado”.
Quando finalmente ele se distraiu com
alguém da produção, eu passei pela porta e entrei no estúdio. Estava ficando
boa nisso.
Eu
tinha que ser rápida! Passei por um corredor com várias portas e comecei a
procurar o camarim da Mika. Como não tinha nada escrito, comecei a abrir todas
as portas.
Em
cada porta aberta, alguém se assustava por abri-la tão depressa e logo em
seguida fecha-la. Tinham vários artistas ali, mas eu não podia perder tempo.
Precisava encontrar a Mika!
Meu
coração estava a mil. A adrenalina daquela busca estava me deixando super ansiosa
e com medo de ser descoberta.
Só
faltava uma porta e eu tinha certeza que seria a dela! Quando encostei na
maçaneta, ouvi a voz que eu já conhecia. Da Mika? Não, não! Quem me dera! Era o
segurança!
-
Então você não encontrou o caminho da lanchonete?
Eu
gelei. Devagar, olhei para ele e sorri (mas era de nervoso).
- Eu só precisava entregar uma coisa
para Mika!
-
Aqui não é parque de diversões, não! – ele segurou o meu braço – Quem autorizou
sua entrada?
-
Ninguém!
-
Fala, quem autorizou sua entrada? – ele aumentou a voz.
-
Já disse que não foi ninguém!
O
que poderia acontecer comigo? Eu fiquei super nervosa imaginando mil situações.
Já tinha escutado tantas histórias ruins de pessoas que são pegas fazendo
coisas erradas.
Ele
puxou meu braço e então a porta atrás de mim se abriu.
-
O que está acontecendo? – disse Paulo, o empresário de Mika.
-
Uma intrusa! Mas não vai mais incomodar. – disse enquanto me levava, puxando
meu braço.
Tirei
a carta da bolsa com a mão que estava livre e levantei.
-
Eu só queria entregar para a Mika...
-
Não vai entregar nada! – O segurança puxou a carta da minha mão e amassou.
-
Não, tudo bem! Pode entregar!
Paulo
pegou a carta de sua mão e entrou novamente no camarim. Enquanto eu fui
arrastada até o lado de fora da emissora.
Ainda
tive que escutar do segurança um grande sermão falando que era errado o que eu
havia feito e que ele estava sendo bonzinho em não fazer nada comigo. De fato,
estava mesmo. Eu sabia que tinha errado. Mas eu havia entregado a carta e
estava feliz em ter concluído a missão. Com o braço doendo, mas logo passaria!
Apesar
de tudo, eu nem sabia ao menos se a Mika leria aquela carta ou até mesmo se
chegaria nas mãos dela. Quem sabe o empresário apenas olhou e jogou fora? Isso
eu nunca iria saber! O mais importante é que eu havia entregado a carta e
dentro do envelope tinha um cartão de memória com dois vídeos meus cantando
“Sorriso da Lua” e “Loucos sonhos”, uma música dela que eu amava. Só esperava
que o cartão não tenha sido quebrado quando o segurança amassou a carta.
No dia do show, eu estava me
arrumando para me encontrar com a Nanda para irmos juntas. Eu tinha vários
amigos que eram fãs da Mika, mas a Nanda era a que eu tinha mais contato.
Encontrei com ela e contei sobre o que havia acontecido na emissora.
–
Não acredito que você fez tudo isso! – ela disse. – Se alguém me
contasse, eu diria que não foi você!
- Nem eu acredito! Mas quando dei
por mim, já estava lá dentro. Eu não vi outra forma! Queria muito que meu avô
visse eu realizando esse sonho! E já não deu certo a história do concurso,
queria que de alguma forma eu pudesse estar lá em cima do palco com ela!
- E você acha que vai dar certo?
Eu olhei para o céu e a lua
sorria.
- Acho que vai! Tenho o
pressentimento de que tudo vai dar certo!
Eu tinha esperanças, mas elas
foram se acabando quando faltava pouco tempo para o show começar e a banda de
abertura entrou no palco.
– Era para a gente estar lá. –
suspirei.
- Ah, amiga! – ela disse. – Tudo
tem sua hora! Sabe, eu tenho o seguinte pensamento, nunca devemos ficar olhando o que os outros
têm e ficar se perguntando “por que não acontece comigo?”. Quando acontecer com
você, vai ser melhor do que qualquer outra coisa que você já viu ou ouviu dos
outros.
Quanto a isso eu não tinha
dúvidas! Tudo tem seu momento certo de acontecer e, exatamente quando pensei
isso, meu celular tocou avisando que eu havia recebido uma mensagem no
Instagram.
“Helô Vieira? Esperamos você na porta B.
Apresente- -se com documento.”
Oi? Eu fiquei gelada no mesmo
instante. Mostrei a mensagem para a Nanda e não tive tempo de pensar em nada,
só a puxei para ir comigo e fomos correndo. O show da Mika já estava começando,
mas não estávamos preocupadas com isso naquele momento. O que me esperava? O
coração batia a mil. Chegamos ao portão B e o segurança já estava com meu nome,
mas obviamente o da Nanda não estava. Tentamos insistir, mas ele era bem rígido
na decisão: só eu poderia entrar. A Mika já estava no palco e o desespero
começou a bater.
- Vai, amiga! Esse é o seu
momento! – ela disse.
– E você? – perguntei pra ela.
– Eu vou ter o meu, mas agora é
seu! Vai!
Dei um abraço nela e um segurança
me acompanhou até a coxia do palco e ali me levou até Paulo.
– Oi! Eu sou Heloísa Vieira! - eu disse, atropelando as palavras de tão
ansiosa que eu estava.
– Eu sei! – ele disse rindo,
enquanto me cumprimentava com um aperto de mão – Nós nos conhecemos em uma
situação um pouco desagradável.
- Eu sei... Sinto muito pelo o
que fiz! Sei que foi errado!
- É, foi! – ele balançou a
cabeça. – Mas entendemos o motivo quando lemos a sua carta.
“Lemos” – isso significava que a
Mika tinha lido também?
- Vimos o seu vídeo cantando
“Loucos Sonhos” e a Mika falou para você cantar com ela hoje.
A Mika falou? Eu estava em
transe.
– E-eu... vo-vou... cantar com
ela no palco? – falei gaguejando.
– Sim!
Eu tinha entendido, mas eu queria
ouvir de novo para ter certeza. A ansiedade devia estar no seu ponto máximo.
Sentia vontade de fazer xixi, eu precisava muito ir ao banheiro. Mas e o medo
de ir e me chamarem para entrar no palco? Era melhor esperar. E se eu fizesse
xixi na calça em cima do palco? Esse seria o maior vexame da minha vida! Um
sonho se transformaria em pesadelo.
Não, não ia acontecer nada. Era
só me concentrar e segurar que não ia acontecer nada!
Fiquei aguardando na lateral do
palco, na coxia, mas durante todo o show a Mika não passou por mim. Ela sempre
saía pelo outro lado.
Então, no meio do show ouvi a
Mika falar.
– Ontem, uma fã veio falar comigo
dizendo que tinha um sonho de um dia poder cantar nesse palco. Ela me contou um
pouco dos seus sonhos e eu gostaria de dizer para ela nesse momento que os
sonhos podem se tornar realidade. Quero chamar aqui no palco Helô Vieira!
Ela falou meu nome! Meu nome!
Helô Vieira! Essa era eu! Respirei profundamente e caminhei. Eu estava muito,
muito, muito nervosa. Era um sonho! Mais que um sonho. Agora era, enfim,
realidade. Fui até onde ela estava e, assim que cheguei, dei um abraço meio
forte, meio trêmulo nela e agradeci. Na verdade, eu estava sem palavras!
– Vamos cantar “Loucos Sonhos”. Tudo bem? –
ela me entregou o microfone. – Mas você vai cantar como se fosse seu show. Vai
entrar por ali – ela apontou uma escadaria que tinha no cenário do palco. – E
no meio da música eu entro como participação especial. Dava para acreditar que
tudo aquilo era verdade? Fui até onde ela havia me indicado para fazer a
entrada.
Ali
de cima, olhei para a plateia e vi que tinha muita gente. No escuro, não dava
para ver todas as pessoas que estavam ali, mas dava para perceber que o estádio
estava lotado.
Pensamento 1: Eu não vou conseguir cantar na frente de todo mundo!
Pensamento 2: Chegou o meu momento!
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