Já
disseram para você que quando não tem o que dizer é melhor ficar em silêncio?
Pois era isso que deviam dizer para Samy! Quem era ela para se intrometer nos
meus estudos e na minha música?
Um elogio se paga com elogio e
não com comentário ridículo só para se aparecer na frente dos outros. Com
certeza ela isso que ela queria!
–
Bom, se eu fico gravando música é um problema meu! E isso não interfere no meu
estudo! – falei.
Eu
estava com raiva! Não só pelo comentário, mas porque ela tinha dito algo que
ninguém perguntou.
–
Além disso, a gente precisa estudar sim, mas também precisa se distrair um
pouco. – continuei. -Isso faz parte de qualquer treinamento! E a minha
distração é a música!
–
Ok, vamos ver quem vai estar na lista de aprovados. – disse ela com um sorriso
falso.
Ah,
que menina mais besta! Aonde ela achava que essa competitividade iria leva-la?
Para a HAX? Bom, talvez... Mas eu que não queria ser da classe dela! Ainda bem
que eu havia escolhido outro curso! Assim não corria o risco de estudarmos
juntas!
Eu
sentia que estava no caminho certo! Estava fazendo uma coisa que gostava muito
e estudando para alcançar meus objetivos.
Apesar
de querer passar no vestibular, eu queria muito realizar meu sonho de ser
cantora. Mesmo que fosse só por um momento, queria muito ter a chance de viver
essa experiência.
Pensando
em tudo, eu escrevi uma carta para a Mika contando a minha história. Falei do
meu sonho de ser cantora, do concurso, do meu avô, da minha história na música
“Sorriso da Lua”, como a letra era importante para mim (por ser uma música que
eu compus com meu avô) e o quanto eu sonhava em cantar com ela no palco. Também
escrevi tudo o que eu aprendi com ela e como suas palavras me ajudaram a ir
atrás dos meus objetivos, mesmo que nunca tenhamos nos conhecido pessoalmente
ou trocado uma palavra.
Eu
tinha escrito a carta, mas estava morrendo de vergonha. Podia parecer meio
bobo. Ela poderia ler e achar uma besteira, ou então poderia nem ler – o que
era mais provável.
Como eu sabia que um dia antes do
show ela estaria em um programa de TV, resolvi fazer de tudo para ir até lá e
ficar no auditório. Era uma maneira de entregar a carta e também a veria de
perto.
Fui
até a porta da emissora e fiquei esperando. Havia outros fãs dela ali, e como
nenhum de nós estava na lista que eles tinham das pessoas que iriam para a
plateia, ficamos aguardando até que todo mundo entrasse, para ver se sobraria
lugar.
Quando
deu o horário do programa, as pessoas começaram a entrar e eu estava ali
naquela expectativa, entrando junto naquela fila indiana, até que quando chegou
bem na minha vez, fui interrompida pela mão de um segurança me barrando.
-
Até aqui! Você não pode mais! – ele disse.
-
Oi? – perguntei.
-
Já está lotado! – ele disse em um tom bem seco.
-
Mas eu preciso entrar! Por favor! É só mais uma pessoa!
-
Se eu deixar você entrar, teria que deixar todo mundo entrar também! – ele
disse, apontando para as outras pessoas que estavam atrás de mim na fila. –
Além disso não cabe mais! Todos os lugares da plateia estão lotados!
- Mas por favor, eu... – tentei argumentar,
no entanto ele me deixou falando sozinha. Simplesmente virou as costas e saiu.
Pouco
a pouco as pessoas saíram da fila, mas eu não queria sair. Precisava falar com
a Mika!
Olhei
para o outro segurança que estava na porta. Ele tinha uma expressão mais
tranquila, não era tão sério como outro.
-
Não tem nenhuma forma de entrar?
-
Infelizmente não. – ele respondeu.
Olhei
para a carta na minha mão e meus olhos encheram de lágrimas. Para mim era tão
importante aquilo. Não sei muito bem explicar! Cantar com a Mika não era apenas
realizar meu sonho, era a oportunidade de mostrar para o meu avô que deu tudo
certo, que eu havia conseguido! Ele estava tão mal, mas eu sabia que ficaria
feliz em saber que cantei a música que fizemos juntos.
-
Os artistas passam por aqui depois que saem do programa? – perguntei.
-
Nem sempre. – o segurança disse. – Na maioria das vezes saem de carro lá de
dentro mesmo. Alguns ainda param, mas outros passam tão rápido que a gente não
consegue nem ver quem era.
-
Ah...- suspirei.
-
Você queria ver quem? – ele perguntou.
-
A Mika! - meus olhos encheram com mais lágrimas e já não dava mais para
segurar.
-
Você deve ser muito fã dela mesmo!
-
Sou! Mas não é por isso... – suspirei novamente. – Eu tinha um sonho de cantar com
ela...
Então
comecei a falar de tudo. Foi quase uma terapia ali com o segurança, inclusive
com muito choro envolvido. Contei do concurso, do vestibular, da minha música,
do meu avô e o medo que eu tinha de perde-lo.
Percebi
que ele ficou comovido. Não era a intenção nenhuma fazer drama, mas (talvez por
influências das novelas) eu era chorona por natureza e, naquele momento, eu
estava tão sensível com tudo que estava acontecendo que acabei não me
controlando.
Ele
pediu para que eu esperasse um pouco e foi liberar a entrada de um pessoal que
estava fazendo entrega. Eram quatro rapazes empurrando carrinhos com várias
caixas empilhadas.
Olhei
para o segurança que falava com os rapazes da entrega e percebi que ele fez
sinal com o olhar, indicando que eu entrasse junto. Bom, pelo menos eu entendi
isso!
Disfarçadamente eu poderia passar
por trás dos entregadores e entrar na emissora enquanto o segurança estava
“distraído”. E foi isso que fiz.
Fingi
que estava indo embora e dei a volta indo por trás dos entregadores, ficando do
lado oposto de onde o segurança estava, fora do seu campo de visão. Quando os
rapazes entraram, eu fui junto, escondida atrás das caixas.
Dez
passos rápidos e eu já estava lá dentro. Agora só era preciso procurar o
estúdio do programa do Kauan Borges e encontrar a Mika!
Nenhum comentário:
Postar um comentário