Última chance


            Felicidade era o que me definia. Eu estava tão feliz por estar prestes a realizar um sonho...! Fui para a casa do meu avô para dividir a novidade com ele. Queria que ele fosse a primeira pessoa a saber. E eu sabia que ele ficaria orgulhoso de mim quando eu contasse que consegui passar no concurso e minha estreia como cantora seria no show da Mika.
             Dava para imaginar que eu estaria naquele palco? Já conseguia ver as luzes me iluminando, enquanto eu cantava para todo mundo.
            Quando eu cheguei à casa dele, vi o carro dos meus pais e dos meus tios em frente ao portão. Imediatamente veio um mau pressentimento de que tivesse acontecido o que eu mais temia na vida.
            Não... Isso não podia estar acontecendo...
            Bati à porta e quem abriu foi meu pai, com o rosto abatido e olhar tristonho.
            - Cadê o vô? – perguntei com a voz fraca.
            Não, eu não queria ouvir a resposta.
            - Ele... – meu pai engoliu seco antes de continuar a falar.
            Entrei devagar e vi minha mãe, minha tia e três primos chorando sentados no sofá.
            - Ele faleceu nesta noite... Morreu dormindo.
         Fiquei sem reação. Aquelas palavras rondavam a minha mente. Eu não queria que fosse verdade.
            Queria que, a qualquer momento, alguém começasse a rir e dissesse que era apenas uma brincadeira. Que saísse um cara com uma câmera de dentro do armário e dissesse que apenas queria ver a minha reação. E, depois, meu avô apareceria rindo, dizendo que tudo aquilo não passou de uma piada –  bem sem graça por sinal.
            Infelizmente, tudo era verdade. Não pude falar para o meu avô sobre o que havia acontecido. Sei bem que ele, em algum lugar, saberia que eu estava realizando meu sonho, o qual ele acompanhou toda a jornada.
            Foi muito difícil ir ao velório e mais ainda ao enterro. Eu não queria estar ali, pois eu não queria de jeito nenhum ter aquelas imagens na minha mente. Queria que eu só tivesse recordação de coisas boas: sorrisos, abraços, carinho, canções... Só isso! Mas é preciso encarar a realidade e vivê-la!
            Chorei bastante e a cada dia aquela dor parecia aumentar. Era uma dor aguda de saudade. Com carinho, eu me lembrava dos seus ensinamentos e de suas palavras que eu guardaria sempre comigo.
            A sua morte fez com que eu ficasse mais próxima dos meus avós paternos. Como eles moravam longe, quase não tínhamos contato, mas depois de tudo isso eu passei a falar com eles todos os dias. Eu também os amava, mas tinha um grande defeito: a certeza do “para sempre”. Sempre vivi como se tudo fosse durar parar sempre, ainda que sempre soubesse que não é assim que funciona.
                Tocar violão me ajudava a me acalmar. Todas as noites eu tocava um pouco e ficava mais tranquila para conseguir dormir. Meus amigos da banda me apoiaram bastante e entenderam minha falta nos ensaios.
            Meu avô faleceu poucos dias antes do show da Mika e ainda não tinha dado tempo de eu me recuperar do que havia acontecido.





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